Chegou a Hora de Contar: Porque Saí do Novo

Chegou a hora de contar uma parte da história do Partido Novo que a maioria desconhece. Ela tem a ver com a minha participação na criação do partido e minha saída.

Fui eu que tive a ideia de criar o Novo, por volta de 2007. Eu fazia as reuniões iniciais no Rio com um pequeno grupo. Fui o evangelizador e o mobilizador, que viajou pelo Brasil trazendo centenas de pessoas para o projeto, enquanto João Amoedo se concentrava na coleta de assinaturas e no levantamento de recursos.

Minha recompensa por meu esforço foi ter minha posição no partido sabotada, a partir do momento em que alcancei um protagonismo maior. A direção do partido foi ocupada com pessoas do mercado financeiro, com entendimento zero de política e total falta de habilidade no trato com pessoas.

A partir de 2015 essa direção transformou um movimento ativista, voluntário e engajado em uma organização autoritária, arrogante e desrespeitosa com os filiados. Discordâncias eram punidas com expulsão. Isso ocorreu em todo o Brasil e atingia qualquer um que demonstrasse liderança e iniciativa. Até um movimento dissidente — o “Confia Novo” — foi fundado e depois morreu, diante da impossibilidade de qualquer mudança.

O episódio mais grotesco foi a decisão de impedir minha candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016. Devido ao trabalho que desenvolvera, eu era a escolha da maioria dos filiados. João já havia me retirado da presidência do diretório estadual em 2015, em decisão que provocara revolta entre filiados. “Não estamos satisfeitos com seu desempenho”, foi a explicação que recebi — embora o diretório do Rio fosse, de longe, o mais ativo do país. Não obstante, no momento da minha saída João confirmou a intenção de me lançar candidato a prefeito no ano seguinte.

Em março de 2016 consultei-o sobre a conveniência de lançar a pré-candidatura. Ele pediu tempo para pensar. Dias depois deu resposta positiva.

Participei então do “processo seletivo”: eu, um dos dois criadores do partido, fui “entrevistado” pelo próprio João, o outro criador, que me conhecia há mais de três décadas, e por várias pessoas cuja participação no partido tinha sido mínima ou inexistente. Do mesmo processo participaram ainda outro pré-candidato a prefeito e dois pré-candidatos a vice-prefeito.

Um dia recebo um telefonema do presidente do diretório estadual. Ele me convida para ir à casa do João. Lá encontrei os presidentes dos diretórios estadual e municipal e o próprio João. Ouvi deles a sugestão de desistir de minha candidatura a prefeito e, ao invés disso, sair candidato a vereador. Nenhuma explicação razoável acompanhava a sugestão.

Alguns dias depois, diante da minha negativa em desistir, o partido anunciava a candidatura de uma de minhas professoras no mestrado da FGV, Carmen Migueles, recém-filiada ao partido e cujas ideias e posições políticas se chocavam frontalmente com as posições do Novo. Ela tinha se inscrito como pré-candidata a vice-prefeita.

No dia seguinte ao anúncio recebi um telefonema de um dirigente do partido se explicando. “Na verdade, não houve processo seletivo”, ele disse. Completou com uma declaração primorosa: somos “coxinhas”, por isso precisávamos de alguém “de humanas” nessa eleição, para não sermos atacados. “Não esquenta com isso”, ele terminou.

Mas o que se seguiu foi uma campanha de destruição da minha reputação nas redes sociais.

Recorri ao estatuto, que dava aos filiados o direito de fazer indicações de candidatos, bastando reunir número suficiente de apoios, conforme artigo 103, II, “b”.

A virulência dos ataques aumentou. A “direção” do partido enviou email a todos os filiados avisando que o apoio à minha candidatura não teria validade, pois eu teria sido “reprovado no processo seletivo”.

Realizei uma grande coleta de assinaturas de apoio, com a ajuda de voluntários. O partido se recusou a fornecer o cadastro de filiados, um direito também assegurado no estatuto. Depois de muita insistência, o cadastro foi entregue apenas em papel e com as informações necessárias ilegíveis.

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Cópia do cadastro de filiados fornecido pela direção do partido. Foi fornecido apenas em papel. Repare que os nomes não estão em ordem alfabética, os números dos títulos eleitorais estão ilegíveis e não há qualquer informação de contato, que era a principal razão da solicitação do cadastro. O direito ao cadastro era assegurado pelo estatuto.

Ao final apresentei 112 assinaturas de apoio, mais do que a quantidade exigida. O partido então enviou e-mails e telefonou para cada uma das 112 pessoas, perguntando se elas haviam realmente assinado o apoio e, mais uma vez, avisando que minha pretensão era ilegítima pois eu não havia sido aprovado do processo de seleção.

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Email enviado aos filiados que me apoiaram e a resposta de um deles

A seguir o partido incentivou 21 filiados a entrar com pedidos de impugnação. No dia 11 de julho de 2016 a “direção” partidária reuniu-se para analisar uma longa lista de acusações contra mim. Minha pré-candidatura foi rejeitada sumariamente.

Respondi a todas as acusações em uma carta, que publiquei aqui.

Me desliguei do Novo e segui meu caminho, participando de movimentos liberais e conservadores, trabalhando pelo impeachment da Dilma, escrevendo dois livros e me tornando conhecido por meu ativismo em segurança pública.

Hoje a “direção” do partido decidiu expulsar Ricardo Salles — um quadro político excepcional — pelo pecado de assumir um ministério. Pela mesma lógica deveriam expulsar todos os seus deputados federais, que têm manifestado firme apoio ao governo.

Durante todo o doloroso processo de saída do Partido Novo, descrito acima, a principal acusação levantada contra mim era de que eu tinha um “projeto pessoal”.

Aos poucos, diante dos atos e declarações de sua liderança, os filiados e apoiadores do Novo estão descobrindo quem está preocupado com o país e quem tem, na verdade, um projeto pessoal.

 

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